Confesso que depois dos 50, comecei a me desencantar com algumas coisas que para mim eram quase que sagradas e não vou discorrer sobre elas aqui, nem “alugaria” a paciência e o tempo de ninguém, para extravasar esses “desencantos” com coisas que podem ter valor pra mim, mas que, para qualquer outra pessoa pode parecer uma grande bobagem.
Em um desses anos passados, tive a oportunidade de ver um vídeo onde varias pessoas, simples, na sua grande maioria jovens, tentavam cantar o Hino Nacional Brasileiro, tarefa nada fácil para quem sabe cantar, imagine-se então, para alguém que não tem muita pratica na arte vocal e ainda mais quando se e’ “pego” de surpresa para tal empreitada.
Pois bem, achei aquilo engraçado, não pela “maldade” em si de
vê-los sem jeito, mas por vê-los tentando inventar palavras e sons se esforçando ao maximo para mostrar que “sabiam” o que “não sabiam”. O fato e’ que nenhuma daquelas pessoas do vídeo teve êxito, erraram a letra, inventaram palavras não existentes no hino, mudaram partes da melodia, resmungaram alguns sons para tentar enganar a sequencia musical, enfim, uma “saia justa” generalizada.
Hoje, recebi de um amigo algo que me fez lembrar aquele vídeo de alguns anos atrás, eu diria, quase igual, não fosse a situação e o local em que se desenvolveu o acontecimento.
O Hino Nacional Brasileiro vai ser cantado por uma profissional da arte com vários anos de carreira e experiência. Ela foi “convidada” pela direção da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo para cantar o Hino como parte dos trabalhos do 1º. Encontro Estadual de Agentes Públicos no dia 13 de Março de 2009, como se pode perceber a única coisa em comum com o vídeo de anos passados e’ o Hino, de resto, nada mais e’ igual tudo muda, tudo e’ melhor, ou seja, tudo parece ser melhor, as pessoas, o ambiente, a cantora Vanusa...
Mas não e’!
Os músicos executam os primeiros acordes do Hino, ela começa a cantar e subitamente o inusitado acontece, mesmo com a letra diante de si ela se perde e confunde as palavras, versos, melodia, fazendo um arremedo de improvisação absolutamente ridículo, a entonação que já era titubeante, cambaleia e enfim o desastre esta estabelecido... O Hino que era para ser cantado com vigor, brilhantismo, orgulho, sentimento cívico, patriótico, torna-se uma ridícula peça que pode ser chamada de qualquer coisa, menos de musica. Aparentemente ela esta embriagada ou drogada ou dopada
ou perdida, como perdidos estavam todos ‘a sua volta.
Pasmemos todos, nenhum dos presentes, deputados, secretarias, advogados, políticos menores, empresários, jornalistas e outros mais, se atreveu a tomar a iniciativa de, ao ver o Hino sendo “vituperado”, ajudá-la a seguir na execução correta ate o final.
Ninguém...
Ninguém, porque, provavelmente nenhum dos presentes saberia cantá-lo corretamente.
Ninguém, porque o patriotismo se foi e o maximo que alguém poderia fazer em defesa do estrago feito era “mandar” o locutor oficial interromper anunciando a próxima “atração”.
Ninguém, porque somos agora exatamente isso, uma nação de “ninguéns”, ha’ um sentimento nacional de depreciação nunca visto em tempo algum em nosso território, alguns ladrões tomaram conta das ruas, outros se apossaram das cadeiras publicas, desde as mais simples ate a mais importante do país.
Nunca tantos desqualificados, em todos os aspectos, tomaram uma fatia tão grande do poder como agora a ponto de podermos dizer com toda certeza, não há’ alguém que não esteja contaminado, porque se houvesse certamente não resistiria estar la’.
Nossa terra tornou-se um espectro de nação, rica e ao mesmo tempo tão pobre, linda e ao mesmo tão tempo feia, forte e ao mesmo tempo tão débil, colossal e ao mesmo tempo tão pequena.
Um sentimento misto de tristeza, desesperança vergonha e medo me invadiu a alma de brasileiro e chorei ao ouvir, destruídas, as palavras que aprendi tão bem nos meus primeiros anos de escola, e que cantava todos os dias as 7:30 da manha, perfilado ao lado de companheiros da minha idade, estufávamos o peito, púnhamos o grito na garganta, a mão sobre o peito e acreditávamos que o que estávamos dizendo era a mais pura verdade e que iríamos viver aquilo eternamente, enquanto “eternamente estivesse deitado nesse berço esplêndido “ o nosso querido Brasil.
O tom exato do nosso país hoje e’ o que Vanusa cantou, sem tirar nada, pode-se acrescentar um pouco mais porque ela não “cantou” tudo, ate porque a interromperam. E que bom que a interromperam!
Mas ela, mesmo inconsciente, mostra apenas a realidade de como esta o nosso pais nessa transicao de seculo, desafinado em todos os seus acordes.
Mas ela, mesmo inconsciente, mostra apenas a realidade de como esta o nosso pais nessa transicao de seculo, desafinado em todos os seus acordes.
E que bom se alguém resolvesse interromper esse “desafino” desse instrumento maravilhoso chamado Brasil, que o mundo escreve (e eu prefiro) como Brazil, e que produzisse em meu peito cansado o mesmo palpitar que eu sentia na fila da entrada daquela longínqua e já’ inexistente escolinha da Fazenda Salgado Filho, que fizesse com que as lagrimas brotassem, como quando raras vezes o ouvimos e nos emocionamos nas nossas medalhas olímpicas de ouro pelo mundo afora.
Ah, como seria bom que esse dia chegasse e ai então eu iria, ouvindo o tom correto do meu país, entoar no tom correto e sem desencantos o Hino Nacional Brasileiro como meu Canto Maior!
Vou morrer desejando isso!
João Florentino DaSilva
Florida – USA
2009
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