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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Tempo de Trevas.




Manhã preguiçosa de setembro, muito calor, tudo transcorria como sempre, pessoas indo e vindo, agitadas e ansiosas por resolverem a vida.
Naquela manhã, especificamente, resolvi ficar na cama até mais tarde,
não tinha sérios compromissos para aquele dia e assim que Jane se levantou, estiquei-me todo o mais que pude, me espreguiçando
gostosamente e me virei para o outro lado, me “esparramando” mais na cama.
“Morfeu” resolveu me convidar de maneira mais contundente naqueles minutos que se passaram e, literalmente...apaguei.
O aparelho de TV que temos no quarto estava ligado em um programa
matinal de variedades e que entre receitas culinárias e piadinhas de eficiência duvidosa tenta divertir e ajudar “donas-casa-pós-modernas”
no seu dia-a-dia.
Percebo, apesar da sonolência, que minha esposa para na porta do quarto e faz um comentário não muito comum, ela diz: “Deve estar acontecendo alguma desgraça em Israel, olha só, o Arafat (Cabeça principal da Autoridade Palestina) dando entrevista com cara de tristeza”.
Ela diz isso e volta pros seus afazeres domésticos, mas isso como que me me “liga”.
Me põe em estado de alerta.
Acompanho sempre os noticiários e a última coisa que eu esperava ouvir era que Arafat estaria triste por alguma desgraça em Israel, seu inimigo por excelência.
Levanto a cabeça e a voz de um repórter , em inglês, tenta descrever um quadro, a principio, estranho a meus olhos um tanto sonolentos ainda,
ele diz que o edifício está em chamas e a imagem mostra isto, parece uma montagem daquelas que a gente acompanha em “trailer” de filme, de vez em quando a imagem é substituída por um vídeo tape de uma aeronave se chocando contra um prédio... me sento na cama e tento entender melhor o que se passa e  consigo ler o cabeçalho da notícia “ATAQUE TERRORISTA AOS EUA”.
Fico estarrecido... A realidade caiu como que pesando várias toneladas... Impossível descrever o sentimento que me invadiu a alma.
-Meeeeeeeeu Deus !!! É o World Trade Center!
O grito saiu sem o menor controle.
A realidade da notícia chega célere ao meu entendimento, que a essa altura já está mais do que desperto.
Eu havia estado lá algumas vezes e me sinto lá exatamente nesse momento, é estarrecedor, um sentimento de horror corre a minha espinha dorsal e sinto como se a vida, o tempo tivesse... parado.
Um avião de grande porte bateu contra o edifício entrando totalmente nele e explodindo com todos os passageiros a bordo causando o inacreditável perante os olhos do mundo.
O repórter diz que outro avião havia se chocado com o Pentágono, casa do maior poder de defesa dos Estados Unidos da América do Norte, outro ainda, foi desviado e caiu nos arredores de Washington...
É irreal tudo isso!
Estamos paralisados com aquela imagem fumegante e quase nem conseguimos prestar atenção ao que o repórter diz, quando outro avião se aproxima da segunda torre e bate nela causando uma explosão ainda maior!
Meu Deus! Não foi “replay”! Ele bateu mesmo ! Nós vimos ! O mundo inteiro viu a história acontecendo!
São mais ou menos 9h00 da manhã.
As duas torres mais altas de New York, vem abaixo, trazendo com elas no meio do fogo, gás, pedras e vigas de ferro, vidas, planos, sonhos
esperanças, desespero e ...morte. Milhares de vidas são ceifadas em segundos.
Não há palavras, não há imagens, não há absolutamente nada, no passado, presente ou futuro, que possa descrever ou mostrar o que se passou no meu íntimo nos minutos que se seguiram, eles pareceram durar uma eternidade, mesmo não sendo eu um norte–americano, mesmo estando a milhares de milhas do local onde tudo acontece me sinto violentado, como alguém que tem sua casa invadida e destroçada por assaltantes!
Estamos, de certa forma, “acostumados” com a violência, temos guerras constantemente no mundo, brigas étnicas, facções inimigas se
digladiando, por religiosidade exacerbada ou pelo poder. Acompanhamos dia a dia desgraças acontecendo, mas, elas demoram semanas, meses, anos às vezes, para se consumarem. O que vimos naquela manhã foi algo que escapa à compreensão de qualquer ser vivo. Toda a desgraça de uma guerra com todas as suas mazelas, acontecendo diante de milhões de expectadores e em pouco mais de meia hora, parando, literalmente, o mundo, mudando para sempre a vida e a história de cada um de nós.
Me senti dentro do avião, sofrendo o impacto e de certa forma, me rendendo ao destino dos acontecimentos, me senti dentro do edifício quando começou a ruir, caindo com ele e sentindo o vácuo da queda e ao mesmo tempo o peso do concreto sobre mim e sendo ainda  sufocado pela poeira e pelo fogo, me senti correndo pela rua, tentando escapar desesperadamente para algum lugar seguro e longe daquele caos,
me senti tentando salvar a mim mesmo e a mais alguém, senti meu coração estrangulado e as lagrimas surgiram e sem o menor controle, correram... Como que querendo ungir todo aquele sofrimento... Passados aqueles momentos de angústia profunda e muita dor... Me senti como um sobrevivente disso tudo...
Aqui no nosso terceiro mundo, “terra de ninguém”, já é rotina sobrevivermos cada dia, um após outro, dada a violência, insegurança e a impunidade que impera por todos os lados.
Mas nada pra se comparar ao que, certamente será lembrado como uma das maiores tragédias desta era moderna.
Acordei, não só do sono pesado daquela manha de Nove de Setembro de 2001, mas, para uma triste e desesperadora realidade, a de que entramos em uma era de violência sem precedentes, um caminho sem volta, visto que a escalada do terrorismo tomou forma e proporções inimagináveis.
Não só eu acordei, mas o mundo acordou, para viver um longo dia na historia da humanidade, de apreensão, angustia, insegurança e de terror. Terror que se apossou da alma de alguns para fazê-los “armas” nessa guerra desigual, e da alma de outros para atemorizá-los ‘a morte    
Fazendo-os crer que os tempos, definitivamente, são de profundas trevas.