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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Perdedores! (cronica)


Quando garoto, isso já faz algum tempo, aprendi na escola, uma historia a respeito do Brasil, que relatava descobrimento, império, escravidão, guerras, inconfidência, libertação de escravos e republica.
Anos mais tarde fui percebendo, conforme buscava conhecer mais a respeito do inicio de tudo, que muita coisa tinha sido alterada, muitos personagens outrora “fora-da-lei”, agora figuravam como heróis, outros que tinham sido heróis, foram transformados em vilões, partes da historia que deveriam ter sido contadas cruamente, estavam maquiadas para dar um sabor de patriotismo maior ao povo, escondendo-se o lado feio, sujo e bandido de determinados personagens quando conveniente.
Coisas vis e más foram tidas e havidas como boas... Coisas boas e bonitas foram consideradas extremamente maléficas.
Assim se escreveu a historia do Brasil, massacres, traições, violência, invasões de terra, escravismo brutal de índios e depois de negros, politicagens, saques das riquezas da terra em benefícios de nações de alem mar que em nada e nunca contribuíram para a nova nação e seu povo.
Assim se formou, assim cresceu, ate chegar a ser considerado grande, apesar de fatos mal contados e de mentiras históricas, afinal, todos os países tem pelo menos um pouco disso.
Sempre li muito a respeito da formação de algumas nações, antigas ou não, gosto de historia, mas não me lembro de outra nação onde os fatos se repitam com tanta similaridade de tempos em tempos.
O Brasil e’ assim, um eterno circulo vicioso de tramas, golpes e falcatruas onde, parafraseando Lavoisier “nada se cria, tudo se repete” e o interessante e’ que só o que não presta se repete. O que e’ bom, não!
Ate’ porque, não há muita coisa boa para ser repetida.

O ponto e’ que quando se trata de uma historia longínqua da qual eu só sei o que me contaram e da qual eu não posso alterar vírgula alguma, me conformo, deixo pra la’, mas quando a historia e’ a que eu estou vivendo, atual, da qual faço parte,  não há como aceitar que ela seja recheada de safadezas, golpes, armadilhas e espertezas, cheia de sujeira moral e ética, cheirando mal em todos os aspectos.
Não, não e não!
A minha historia tinha tudo para ser escrita com tintas verde e amarelo do patriotismo e do amor pelas cores e coisas nacionais, sem exacerbamento mas, uma escrita limpa, bonita, cristalina, da qual eu não me envergonhasse.
Não tinha que ser uma historia pintada de vermelho, um vermelho importado de países de ideais comunistas onde se derramou sangue aos borbotões e não deveria descortinar um futuro tão escuro como o que se mostra,  não deixando duvidas de que mergulhamos em um tempo de trevas e sabe Deus quando e se vamos sair dele.

Pois e’! E’ essa historia que deveria estar sendo escrita hoje por todos nos, poderia estar sendo escrita de forma nobre, límpida, fiel, com cores bonitas, mas ao invés disso, esta sendo escrita de forma vil por facínoras, que se autodenominam heróis e que na contramão dos avanços da humanidade lançam o povo no mais profundo “emburrecimento”, coisa nunca vista “na historia desse pais”.
Uma historia que transita entre dois séculos recheados de descobertas maravilhosas, onde a ciência se multiplica atropelando o próprio conhecimento, uma historia que fala de todos nos brasileiros, miscigenados, sem raça, sem cor, sem credo e que poderia estar sendo colocada nas paginas da existência da nossa nação de maneira a que todos nos pudéssemos nos orgulhar quando outros as lessem, mas não tem sido assim.
A forma como esta sendo escrita mostra algo grave, mostra que  perdemos há muito o bom senso. Deixamos que a escrevam como bem entendam, alguns permitem isso pelo comodismo, outros pela fome, como o Esau’ da Bíblia trocamos o direito de ser alguém e de aprendermos a ganhar o próprio sustento, por um prato de comida gratuita, outros ainda, pela ignorância ou incapacidade de discernir entre o bem e o mal e assim, perdemos.
Perdemos!
Não a eleição!
Estamos a perder já faz muito tempo e não nos demos conta disso!.
Perdemos a nossa cultura e cabe perguntar: Onde estão os nossos heróis de verdade aqueles que contribuíram para o engrandecimento da terra a que pertenciam, onde estão suas casas, seus inventos, suas memórias?
Perdemos a nossa identidade, hoje somos um povo tido como “sem garra”, passivo, que não luta pelo que e’ justo, não luta pelos direitos (direitos?) somos uma mistura de tudo e ao mesmo tempo somos ninguém. Cada um espera que o outro vá ‘a luta, se ele se der mal, azar dele, mas se ele se der bem eu vou estar nessa, levando a minha parte da vantagem sem sacrifício.
Perdemos a fe’ e pelo meio do caminho e ao invés de confiarmos em Deus confiamos no poder da mandinga, do patuá, da figa, do galhinho de arruda atrás da orelha, da folha de fedegoso, do sal grosso, da vela de sebosa ou parafinada, dos cheiros mágicos, dos óleos poderosos das águas bentas, das comidas, das farofadas, das cachaças, dos dedos cruzados, das rezinhas fortes que me poupam do esforço de lutar pelo que e’ direito.
Perdemos a vergonha e essa foi a mais grave das perdas... não me atreveria a escrever algo a respeito porque seria repetitivo, tantas outras vozes tem se expressado nestes últimos dias, com gritos que poucos ouvem, penas que se encharcam de tinta e tentam mostrar que o caminho era outro, que nos equivocamos, sem que se lhes de a menor das atenções.
Certo de que não expressaria tudo aquilo que me vai na alma e estaria longe de descrever com exatidão o que e como precisaria ser dito, lanço mão de um poema escrito por Cleide Canton que poucos sabem quem e’, onde diz:
Sinto vergonha de mim!  
"Por ter sido educadora de parte desse povo,
 por ter batalhado sempre pela justiça,
por compactuar com a honestidade,
por primar pela verdade e por ver este povo
já chamado varonil enveredar pelo caminho da desonra.
Sinto vergonha de mim,
por ter feito parte de uma era, que lutou pela democracia,
pela liberdade de ser e ter que entregar aos meus filhos,
simples e abominavelmente, a derrota das virtudes pelos vícios,
a ausência da sensatez no julgamento da verdade,
a negligência com a família, célula-mater da sociedade,
a demasiada preocupação com o "eu" feliz a qualquer custo,
buscando a tal "felicidade" em caminhos eivados de desrespeito para com o seu próximo.
Tenho vergonha de mim pela passividade em ouvir,
sem despejar meu verbo, a tantas desculpas ditadas pelo orgulho e vaidade,
a tanta falta de humildade para reconhecer um erro cometido,
a tantos "floreios" para justificar atos criminosos,
a tanta relutância em esquecer a antiga posição de sempre "contestar",
voltar trás e mudar o futuro.  
'Tenho vergonha de mim pois faço parte de um povo que não reconheço,
enveredando por caminhos que não quero percorrer...
Tenho vergonha da minha impotência, da minha falta de garra,
das minhas desilusões e do meu cansaço.
Não tenho para onde ir pois amo este meu chão,
vibro ao ouvir meu Hino e jamais usei a minha Bandeira para enxugar o meu suor
ou enrolar meu corpo na pecaminosa manifestação de nacionalidade. 
Ao lado da vergonha de mim,
tenho tanta pena de ti, povo brasileiro!”
Em verdade, não sinto vergonha de mim enquanto pessoa, mas, há uma vergonha manifesta enquanto cidadão, por talvez não ter sabido lutar o suficiente para que meus descendentes tivessem um futuro melhor e mais digno e por ver que... perdemos!
Não estou me referindo a Lula ou a Dilma, expressões menores dessa perda quando colocados ao lado dos valores morais e espirituais que deixamos ao lado do caminho sem sequer nos lembrar de quando aconteceu isso.
Lula e Dilma são simplesmente uma conseqüência disso tudo e, como todas as conseqüências, temos que viver com ela, gostemos ou não!

Perdemos a chance, como tantas outras vezes perdemos tantas outras chances de fazer o melhor, de fazer direito, perdemos elegendo a mentira ao longo dos anos, como sempre fizemos, enaltecendo a malandragem, o conchavo, a safadeza, a esperteza, o golpe, o crime, a “trampa”, a pilhagem.
Não a elegemos agora em 31 de Outubro de 2010, desde ha muito a gente vem elegendo este elenco de coisas, somos parte disso, e’ como um vicio que quando tentamos deixar ele não permite... uma doença incurável, só um milagre poderia fazê-lo.
Resta-nos observar filhos e netos caminhando por um caminho que não construímos, tendo uma cultura que não cultivamos, vivendo e escrevendo uma historia tão ou mais mentirosa do que aquela que aprendemos na nossa infância por não terem aprendido coisa melhor de nos.
Resta-nos chorar a dor de ver todos os valores cívicos, morais, e espirituais pelos quais tantos morreram, a começar pelo nosso Mestre Jesus Cristo, serem desprezados e ate erradicados do nosso cotidiano.
Rui Barbosa, figura ilustre, que se perde no tempo e na memória de uns poucos dizia nos idos de 1914 em um discurso para os senadores da época, palavras  que parecem terem sido inspiradas pelos acontecimentos dos anos recentes deste novo século:
“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”


Resta-nos sentir junto a essa vergonha, a ultima gota de sangue ser, não derramada em um campo de batalha na defesa da honra e do bem, mas ser sugada sutilmente por uma alcatéia voraz que se apoderou de tudo o que havia de sagrado e de belo no nosso torrão natal e esperar que Deus, tão desprezado como tudo o mais, use de sua infinita misericórdia para restaurar, algum dia, a nossa sorte... mas, por enquanto... continuamos perdedores...


Orlando/nov/2010

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