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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O mais longo salto da história... (cronica)

 
1954...
Naquele ano, segundo nos conta a história, entre outros fatos importantes o Brasil, mais uma vez passa por uma Copa do Mundo de Futebol sem a tão sonhada conquista do título de campeão mundial.
O país  perde tambem o seu político mais importante, o presidente Getúlio Dornelles Vargas.
Esta mesma história registra, que naquele mesmo ano, na então quase inexpressiva cidade do interior Paulista, chamada Piratininga, nascera, como tantos outros, um menino e que o Registro Civil de Pessoas Naturais atestava o nome escolhido pelo pai: João Carlos de Oliveira.
De família muito pobre, mesmo assim fora recebido com festa. Três ou quatro garrafas de cerveja servidas em algumas canecas de lata entre os amigos mais chegados, cigarros “Mistura Fina” que foram distribuídos para completar a animada conversa sobre o recém chegado que já passara a ser chamado de Joãozinho.
Joãozinho teve uma infância típica de menino pobre de cidade do interior, brincadeiras com os coleguinhas da vizinhança, sonhos de ser Polícia (e qual é o menino que nunca sonhou ser Polícia, Bombeiro, Motorista de ônibus  com aqueles uniformes bonitos, envergados garbosamente ?). Era assim em todas as vezes que a brincadeira exigia de Joãozinho, um posicionamento mais específico lá estava ele gritando: -- Eu sou o polícia!
Assim passaram os primeiros anos até entrar para a escola primária onde faria novos amigos e onde também, por sugestão da professora, ele passa a ser chamado de João, “Nada de diminutivos por aqui!”, dizia ela, e completava” você esta dando um grande salto na sua vida e para tanto é melhor começar corrigindo estas pequenas coisas”.
A vida corre inexorável, foram-se os anos de infância  e agora o rapazinho já  quase terminando a adolescência percebe que a vida é um pouco mais difícil do que seu pai com todas as dificuldades deixara transparecer para ele. Já procurava um emprego fixo, tarefa dificílima por aquelas paragens, problema vencido por alguns poucos afortunados.
Repentinamente surge uma nova etapa na vida de João. Mais um salto? Era! Uma paixão!
A primeira... era uma menina da vizinhança , 16 anos, morena, linda... e veio logo dizendo:
--Pra mim você a partir de hoje é João Carlos...
E ele mais uma vez observava o seu nome sendo modificado, já estava se acostumando as mudanças e o namoro seguiu firme.
No ano seguinte o alistamento militar... e lá vai ele, lembrando-se daquele sonho de menino, que era mais uma brincadeira do que sonho, ser não um policial, mas, um soldado.
Defenderia não simples cidadãos de bandidos imaginários, como nos seus folguedos, mas estaria a serviço da Pátria, defendendo a honra de seu país, e a partir daí já não seria mais João Carlos, passaria a ser chamado obrigatoriamente de Soldado Oliveira...
Descobre no Exército uma nova e maravilhosa etapa de vida. Já o fizera na escola, por Ter as pernas longas, por ser ágil e leve, por ser determinado, mas ali, isto se tornava literalmente o grande salto da sua vida... ele fazia parte da equipe de atletismo do seu grupo militar, por seu desempenho brilhante vieram medalhas nos jogos do Exército, e agora já Sargento, recebera de seus superiores licença para participar de todas as competições oficiais pelo território nacional.
Explode um novo,  brilhante e quase inacreditável fenômeno nacional numa modalidade esportiva  já quase esquecida desde os feitos dos grandes Nelson Prudêncio e Ademar Ferreira, o Salto Triplo.
Recordes nacionais, Sulamericanos, Panamericanos todos vão sendo vencidos numa velocidade espantosa... Chega a primeira Olimpíada...O mundo o reverencia...
Mais uma vez ele vê seu nome modificado pelas circunstancias de uma nova fase de sua vida. Deixa de ser o Sargento Oliveira para ser conhecido e respeitado pelo mundo afora como o glorioso JOÃO DO PULO.
Cidadão do mundo... De competição em competição, de recorde em recorde era cada vez mais admirado pelos amigos, conterrâneos e adversários. Cumpria mais esta etapa de sua vida que seria provavelmente a mais duradoura, não fosse um estúpido acidente de carro ocorrido na noite do dia 22 de dezembro de 1981  na Via Anhanguera, em Campinas.
A partir daí, toda a capacidade física, mental e espiritual, toda a fibra daquele herói nacional seria posta a prova, uma barreira que se apresentava intransponível. Talvez a mais dura prova de toda a sua vida e com certeza se iniciava aí um longo e demorado salto.
João do Pulo perdia uma de suas pernas por amputação... Era como se cada um de nós brasileiros tivéssemos perdido as nossas próprias... Não saltaríamos mais pelas pistas do mundo, não nos levantaríamos mais, na pessoa dele, com o punho erguido e o peito cheio de orgulho por “ter sido o melhor”.
Parece que ele depois da desabalada carreira, após ter tirado os pés do chão, teimasse em não completar a sequência da tarefa empreendida... Era realmente o início de um longo e doloroso salto na vida dele, salto que após muita dor e sofrimento na madrugada de 22 de maio de 1999 nos fez ver que não havia derrota apesar de tudo, mas que se prolongara pela eternidade adentro, levando-o até a presença de Quem dera a ele todas as possibilidades vividas aqui  e de Quem com certeza ouviu o seu novo nome... após ter completado, este que com certeza foi o maior salto da sua história...
 Já não seria mais chamado João do Pulo, mas, João de Deus...

Crônica escrita e apresentada no dia 9 de junho de 1999 como exercício da aula de
Pratica de Locução pelo aluno João Florentino Da Silva no Senac de Campinas.

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